Herdado por Ciro M. Costa
Ouça a música pra dar um clima especial na história:
Todo mundo sabia que o velho Potenróber não tinha absolutamente nada. Seu filho mais velho, Guíbisson, bem sabia disso, e imaginou que por esse motivo seus irmãos não apareceram no dia da leitura do testamento. Só ele mesmo.
- Bem, Sr Guíbisson, creio que seus irmãos não virão hoje. – disse o advogado, ajeitando seus óculos de aro bem negro. – Creio que já podemos começar.
- Hein? – perguntou Guíbisson, de jeito abobado.
- Testamento, Sr. Guíbisson! Começar, leitura! Entende?
- Ah, tá! Entendi. Massa.
- Posso começar?
- Começar o que?
- A leitura do testamento, Sr. Guíbisson!!!
- Que testamento, afinal?
- O TESTAMENTO DE SEU PAI, SR. GUÍBISSON!!!!
- Ah, é. Meu pai morreu, né? Legal.
- Humpf! Vamos lá!
- Vamos aonde?
Sem dar importância para o bisonho Guíbisson, o advogado abriu um papel, que parecia ter uma espécie de poema. Leiam-no na íntegra:
Ormezinda, Let´s go!
Vamos, vamos meus amigos!
Vamos comer pizza de frango
para jogar fora o “ossinho”
Vamos pedir um sundae
e deixar cair a cereja
(quem mandou não comer logo?)
Vamos ligar a TV no domingo de manhã
para assistir programa de pesca
Vamos catar dinheiro fácil do chão
para depois devolver
Vamos, vamos meus amigos
Vamos ao shopping
para ver os outros gastarem
Vamos à praia
e engolir a água do mar pra ver se é salgada mesmo
Vamos parar de fumar
e continuar bebendo
Vamos fazer exercício
e ler revistas em quadrinhos de frente à TV
Vamos trabalhar, fazer hora extra
e comprar um relógio novo
Vamos, vamos meus amigos
Vamos escrever coisas inúteis
como isso que acabo de escrever!
(eu fiz minha parte)
Após a leitura, o advogado entregou o papel à Guíbisson. E perguntou:
- Então, o que achou disso?
- Disso o quê?
- Do poema de seu pai que acabo de ler, Sr. Guíbisson.
- Ué!? Bacana, né?
- “Bacana”? É só o que tem a dizer?
- Hein?
- Seu pai não deixou nada! Somente dívidas e esse poema cretino! É só o que tem a dizer?
- Como assim?
Impaciente, o advogado falou um nome muito, muito feio e saiu da sala.
Guíbisson, por sua vez, guardou o papel e foi embora.
Alguns anos se passaram. Durante todo esse tempo, Guíbisson estava sempre com poema em suas mãos. Sempre. Podia estar fazendo o que fosse, e ele nunca largava aquele papel. Algumas pessoas perguntavam: “Guíbisson, o que você tem aí? Guíbisson, por que está sempre segurando esse papel? Guíbisson, o que você anda pensando?”.
E ele sempre respondia:
- Hein?
Guíbisson conseguiu arrumar emprego em um posto de gasolina. Era um bom serviço para ele, só tinha que abastecer os carros, colocar ar nos pneus e cheirar gasolina de vez em quando. Ele gostava daquele emprego. De certa forma, sentia-se realizado.
Mas o papel, este ele nunca largava.
Um belo dia, uma moça, bonita, baixinha, de cabelos curtos e óculos escuros apareceu dirigindo um belo carro para abastecer. Guíbisson foi atendê-la:
- Sim, madama?
- Olá, rapaz! – disse a moça, encarando-o atrás dos óculos escuros. – Creio que quis dizer “madame”, não?
- Como assim?
- “Madame”, ao invés de “madama”.
- É?
- Sim. Escute, quero que complete o tanque, sim?
- Sim senhora, madama. Eu...
- Hum... que papel é esse na sua mão?
- Hein?
- Esse papel aí! O que é? Essa letra me parece familiar...
- Letra de quê?
Impaciente, a mulher tomou o papel de Guíbisson. Assim que começou a ler, ela quase teve um ataque de ansiedade.
- M-minha nossa!!! Eu não acredito!!!
- Hein?
- Rapaz, onde conseguiu isso???
- Isso o que?
- Esse papel! Céus! Nunca pensei que fosse encontrá-lo! Por acaso você sabe quem eu sou?
- Eu quem?
- Eu, rapaz! Meu nome é Ormezinda!! Eu sou a garota do poema!!
- Que poema?
- Eu não posso acreditar! A única coisa que restou de meu único e verdadeiro amor! Potenróber! E é dele mesmo! Eu conheço essa letra!
- Que letra?
- Diga-me, rapaz! Quanto quer por este poema?
- Que poema?
- Vamos lá! Eu sou uma mulher muito rica! Posso pagar qualquer preço!Você pode pedir qualquer quantia que quiser, e será rico também! Vamos, diga!
- Dizer o que?
- QUANTO QUER POR ISSO!!!!
- Isso o que???
- AAAAAARGH!!!!!
Zangada, a mulher acelerou o carro e foi embora, levando o poema de Potenróber.
- O que houve, Guíbisson? – perguntou um frentista.- Parece que aquela mulher roubou o seu papelzinho de estimação! Por que? Afinal, por que ele era tão importante? Por que você estava sempre com ele?
- Hein?
Em homenagem a todos os escritores que escrevem textos sem finais decentes, encerro aqui esta pequena história. Tenham um bom fim de semana.
Ouça a música pra dar um clima especial na história:
Todo mundo sabia que o velho Potenróber não tinha absolutamente nada. Seu filho mais velho, Guíbisson, bem sabia disso, e imaginou que por esse motivo seus irmãos não apareceram no dia da leitura do testamento. Só ele mesmo.
- Bem, Sr Guíbisson, creio que seus irmãos não virão hoje. – disse o advogado, ajeitando seus óculos de aro bem negro. – Creio que já podemos começar.
- Hein? – perguntou Guíbisson, de jeito abobado.
- Testamento, Sr. Guíbisson! Começar, leitura! Entende?
- Ah, tá! Entendi. Massa.
- Posso começar?
- Começar o que?
- A leitura do testamento, Sr. Guíbisson!!!
- Que testamento, afinal?
- O TESTAMENTO DE SEU PAI, SR. GUÍBISSON!!!!
- Ah, é. Meu pai morreu, né? Legal.
- Humpf! Vamos lá!
- Vamos aonde?
Sem dar importância para o bisonho Guíbisson, o advogado abriu um papel, que parecia ter uma espécie de poema. Leiam-no na íntegra:
Ormezinda, Let´s go!
Vamos, vamos meus amigos!
Vamos comer pizza de frango
para jogar fora o “ossinho”
Vamos pedir um sundae
e deixar cair a cereja
(quem mandou não comer logo?)
Vamos ligar a TV no domingo de manhã
para assistir programa de pesca
Vamos catar dinheiro fácil do chão
para depois devolver
Vamos, vamos meus amigos
Vamos ao shopping
para ver os outros gastarem
Vamos à praia
e engolir a água do mar pra ver se é salgada mesmo
Vamos parar de fumar
e continuar bebendo
Vamos fazer exercício
e ler revistas em quadrinhos de frente à TV
Vamos trabalhar, fazer hora extra
e comprar um relógio novo
Vamos, vamos meus amigos
Vamos escrever coisas inúteis
como isso que acabo de escrever!
(eu fiz minha parte)
Após a leitura, o advogado entregou o papel à Guíbisson. E perguntou:
- Então, o que achou disso?
- Disso o quê?
- Do poema de seu pai que acabo de ler, Sr. Guíbisson.
- Ué!? Bacana, né?
- “Bacana”? É só o que tem a dizer?
- Hein?
- Seu pai não deixou nada! Somente dívidas e esse poema cretino! É só o que tem a dizer?
- Como assim?
Impaciente, o advogado falou um nome muito, muito feio e saiu da sala.
Guíbisson, por sua vez, guardou o papel e foi embora.
Alguns anos se passaram. Durante todo esse tempo, Guíbisson estava sempre com poema em suas mãos. Sempre. Podia estar fazendo o que fosse, e ele nunca largava aquele papel. Algumas pessoas perguntavam: “Guíbisson, o que você tem aí? Guíbisson, por que está sempre segurando esse papel? Guíbisson, o que você anda pensando?”.
E ele sempre respondia:
- Hein?
Guíbisson conseguiu arrumar emprego em um posto de gasolina. Era um bom serviço para ele, só tinha que abastecer os carros, colocar ar nos pneus e cheirar gasolina de vez em quando. Ele gostava daquele emprego. De certa forma, sentia-se realizado.
Mas o papel, este ele nunca largava.
Um belo dia, uma moça, bonita, baixinha, de cabelos curtos e óculos escuros apareceu dirigindo um belo carro para abastecer. Guíbisson foi atendê-la:
- Sim, madama?
- Olá, rapaz! – disse a moça, encarando-o atrás dos óculos escuros. – Creio que quis dizer “madame”, não?
- Como assim?
- “Madame”, ao invés de “madama”.
- É?
- Sim. Escute, quero que complete o tanque, sim?
- Sim senhora, madama. Eu...
- Hum... que papel é esse na sua mão?
- Hein?
- Esse papel aí! O que é? Essa letra me parece familiar...
- Letra de quê?
Impaciente, a mulher tomou o papel de Guíbisson. Assim que começou a ler, ela quase teve um ataque de ansiedade.
- M-minha nossa!!! Eu não acredito!!!
- Hein?
- Rapaz, onde conseguiu isso???
- Isso o que?
- Esse papel! Céus! Nunca pensei que fosse encontrá-lo! Por acaso você sabe quem eu sou?
- Eu quem?
- Eu, rapaz! Meu nome é Ormezinda!! Eu sou a garota do poema!!
- Que poema?
- Eu não posso acreditar! A única coisa que restou de meu único e verdadeiro amor! Potenróber! E é dele mesmo! Eu conheço essa letra!
- Que letra?
- Diga-me, rapaz! Quanto quer por este poema?
- Que poema?
- Vamos lá! Eu sou uma mulher muito rica! Posso pagar qualquer preço!Você pode pedir qualquer quantia que quiser, e será rico também! Vamos, diga!
- Dizer o que?
- QUANTO QUER POR ISSO!!!!
- Isso o que???
- AAAAAARGH!!!!!
Zangada, a mulher acelerou o carro e foi embora, levando o poema de Potenróber.
- O que houve, Guíbisson? – perguntou um frentista.- Parece que aquela mulher roubou o seu papelzinho de estimação! Por que? Afinal, por que ele era tão importante? Por que você estava sempre com ele?
- Hein?
Em homenagem a todos os escritores que escrevem textos sem finais decentes, encerro aqui esta pequena história. Tenham um bom fim de semana.
11 comentários:
Ahhhhhhhh que raiva desse Guibisson!!! Cara mais passado impossível (hehehe). Difícil é parar de rir. Pior que sempre encontramos um Guibisson por ai. E sempre quando a gente está mais sem paciência.
Bem bolada essa crônica Cirão...
Um abraço...
Putz...
Cara bobo!
shuahsuauhshuahus
Imagina ele com uma garota
_ Qual o seu nome gatinho?
_ Hein?
_ Seu nome?
_ Hein?
_ Não vai falar?
_ Ahn?
saijsjaisa
Hahahahahahahahhaha...]
É um fanfarrão esse ai!
Heim?
irmããããããããão!!!!
Que poema, não?
Por iss que anos depois foi lembrado, era queima de arquivo.
Muito divertido o texto, parabéns!
Certo, certo!
Hahahahahahahahahaha Também não sou o "Rei dos Finais decentes", portanto agradeço pela homenagem! hahahahahaha
"Ormezinda, Let´s go!" foi a coisa mais louca que li nessa semana ao lado do cavalo "Wellington do Tidin"! Hahahahahahaha Sinceramente, esse nome me lembrou até de algumas musiquinhas mais lúdicas que a Leila ensinava a gente a cantar em suas aulas! London's burning, Hockey Pockey, Ormezinda Let's go! e por aí vai... risos
Bravo, irmão! BRAVO!!!
Ahahahahahahahahah!!!
Crítica ferrenha (embora superengraçada), hein, cara?! Pai cretino, cínico; filho lesado, por que motivo? O reencontro das vidas dos que ficaram... E essa homenagem foi desnecessária, uma vez que esse tipo de final é simplesmente o melhor tipo.
Muito bom mesmo!!! Parabéns!!! E bjos!!!
Cara! Não sei se estou louco, mas eu achei fantástico! Esses nomes me matam de rir!
"A herança de Potenróber!" ahahahahahahahahh!
A história te prende do início ao fim!
Que step que nada gordão, isso´é relíquia isso sim!
Balula!
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