Por Bruno C. O. Carvalho
1
Enquanto seu coração disparava diante de tal surpresa, o garoto não conseguia sair do lugar. No bolso, justamente onde estava a pedra, ele podia sentir algo queimando. Era preciso correr, pois o primeiro porco aparecera. Iriam vir outros... ele tinha certeza!
“Corra garoto! Corra!” – Dizia uma estranha voz, da qual ele já não distinguia ser de sua consciência, ou do próprio ego. Mas o que pensaria um garoto em uma situação dessas? Fugir de um porco? Por que ele achou uma pedra? Isso não soaria muito estranho?
Ninguém pode explicar o que se sente em uma hora dessas. Seria como se estivéssemos nos divertindo em uma bela praia e de repente percebemos que estamos sendo puxados pela maré. Você tenta nadar até a margem, mas não consegue. Também não consegue entender que, minutos antes estava salvo. Mas agora você está sendo puxado, talvez morrerá afogado. Nada mais a se fazer: ou se arriscar, ou pedir ajuda. Um desespero súbito. Como se aquele ato fosse literalmente o motivo de sua morte. Poderia não ser, mas literalmente era...
2
Saia daqui! – disse ele ao animal. Mas o animal apenas ia em sua direção. O garoto começou a correr desesperadamente, pois sabia que se ficasse por ali, o porco o mataria. “O que é isso meu Deus?”, ele se perguntava a medida em que ia correndo. E então suas pernas foram ficando cada vez mais velozes. Uma sensação de poder o tomara, como se correr fosse a coisa mais fácil do mundo. Não sentia cansaço algum, e ainda tinha a certeza de que poderia correr muitos quilômetros a frente.
O porco foi ficando para trás. Correu atrás do garoto. Correu o mais rápido que pôde. Gritou o mais alto que pôde. Mas ele não correu e gritou o suficiente... e morreu.
3
O garoto parou e olhou a figura daquele suíno. Sentiu medo. Pensou consigo mesmo: “Será que os porcos tem alma?”. Sentiu medo, pois teve a certeza de que se alma daquele porco existisse, ela ainda estaria em vão gritando e correndo atrás da pedra. A morte daquele porco não aliviara nem um pouco a sensação de medo que ele sentia.
Mas como não sentir medo ouvindo todas as instalações de uma pequena propriedade rural se quebrarem. Gritos apavorantes vindos de todos os lados. Poeira, e juntamente com ela, mais porcos!
Eles vinham de todos os lados. Da fazenda onde ele se encontrava, das fazendas vizinhas, e ainda, de lugares onde o garoto sequer poderia imaginar. Por mais distante que seu olhar alcançasse, ele só conseguia ver uma coisa: porcos, e mais porcos...
4
Ele começou a correr novamente. A sensação de poder veio mais uma vez. A pedra era a responsável por aquilo. No começo, o garoto sentiu prazer em correr dos porcos, em não dividir a pedra com eles, em ouvir a alma daqueles animais clamando pela pedra. Todos os porcos queriam a pedra, corriam desesperados sem ao menos olhar o que tinha entre a pedra e o caminho a seguir. Muitos porcos tropeçavam entre si e caiam, dando lugar a mais tropeções e quedas. Aqueles animais se debatiam, mordiam, gritavam, e por fim... morriam.
Eles nunca o alcançariam. Só o garoto detinha o poder. Nenhum porco poderia alcançar um garoto com os poderes que ele tinha. Muito tempo se passou e o garoto virou homem. Ele se sentia especial, mas estranhamente não se sentia feliz.
5
Em meio ao prazer e a culpa, o homem começou a pensar se valeria a pena morrer daquele jeito. Mais porcos viriam, talvez outros animais. Mas a pergunta persistia: Valeria? Valeria morrer entre a merda e o sangue para adquirir tal poder? E então começou a sentir pena daqueles animais. Que de tanto quererem a pedra, sacrificavam desde sua honra até a sua própria vida.
O garoto já era homem, quase velho. Só agora começara a pensar sobre sua vida, sua jornada. Começou a pensar que tinha pena daqueles animais. Depois percebeu que mesmo depois de possuir o poder, ele, assim como eles, também corria. Pior ainda, ele fugia. O homem, nada mais, nada menos, tinha simplesmente o poder de fugir.
Ele chorou. Por perceber que perdera toda a sua vida fugindo de porcos. De perceber que poderia ser muito mais feliz por muito menos que aquela pedra. Aquela pedra, até então supostamente achada em uma fazenda. Só agora ele podia olhar para si - mesmo. Só agora ele percebia que muitos correm atrás de algo quase impossível de se alcançar. Por que corremos tanto?
Só agora o homem podia olhar para si - mesmo. E ele estava cheio de pêlos. Sim. Ele também era um porco. Apenas um porco. Apenas um porco que corria mais... com uma pedra.
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5 comentários:
Boa, Brunildo!!!
Gostei dessa mistura de ficção, ação, tensão e lição! "Por que corremos tanto?", é realmente algo a se pensar, ainda mais depois desse texto, filhão! Muito bom mesmo!!! Valeu a pena esperar tres semanas!
Esse tem que ir pro livro, com certeza!
Nota 1000 para o texto, desde a primeira parte.
Abraço!
Muito bom
mas nao entendi muito bem!!!
bou ler de novo
abraços!
boa filhao muito bom mesmo comecei a imaginar o do porco mas nao tanto e foi muito bom mesmo corremos tanto da vida e por algo que nem é o que queremos é isso ai
ate mais
Bruno, essa série toda foi ótima, mas o final foi brilhante! Desde a estrutura até a maneira de colocar a "lição" de que o Ciro falou. Ficou natural, não ficou forçada...
Há pouco a se dizer de um texto que já diz tudo e de maneira exata. O diabo sabia muito bem o que estava fazendo, pois que o ser humano é ingênuo demais. O moleque nem parou pra pensar que valor teria a pedra, apenas pegou-a e se apegou a ela, quis tê-la e ponto final. Mesmo sabendo-se infeliz, não se livrou dela. E só percebeu tudo isso quando era tarde.
Perfeito!
Parabéns!!!
Ficou ótimo, só acho que deveria ter elaborado mais essa porra ai...
Só correr, só esse era o poder?
Correr de porcos? Quem vai querer comrrer de porcos? hahahahahaahha
Se fosse de picas ai sim, cara, mas de porcos?
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