Julieto, o ex-ator

Dirigido por Ciro M. Costa

Sucesso dos anos 80, a novela “Pai Bastardo” revelou um ator-mirim de apenas 10 meses de vida: Julieto Suceço. Apesar de ser um bebê, destacou-se no papel de neto do pai bastardo, e desde então não parou mais. Ao longo de sua vida, fez todos os papéis de teatro e TV possíveis: foi garoto-propaganda dos sabonetes Pôncio Pilatos, apresentou o programa infantil “Arco-Íris do Papai Urso Legal”, fez 14 filmes, 18 seriados, 9 minisséries, 25 novelas (todas grandes sucessos da TV C?RO), 54 peças de teatro... além de um CD conceitual com história e músicas escritas por ele mesmo.

Mas, depois dos 30 anos, Julieto Suceço estava cansado. Durante uma participação no seriado “Devolva Minhas Fitas VHS”, tomou uma importante decisão: depois de passar a vida toda encenando, queria ir para o mundo real. Não queria mais saber de ser ator ou qualquer coisa do tipo.

- Você não pode fazer isso!! – gritou seu empresário.

- Sinto muito. – disse Julieto. – Já está feito.

- Mas todos te amam! Seu sobrenome já é ‘Sucesso’!!

- Ignorante, meu sobrenome é com Ç! Sucesso é com SS! Onde aprendeu Português? No MSN??

- Não mude de assunto! Você sabe que se fizer isso, eu estarei desempregado!

- Bom, aí é já problema seu! Viveu sempre às custas do meu sucesso! Não me importo se continuar, mas vai ter que ser sem mim! Pegue meu material gravado e faça o que quiser! Monte um DVD com meus melhores momentos, ou escreva minha biografia! Eu autorizo qualquer coisa! Mas não quero mais saber dessa vida encenada!

Então Julieto jogou tudo para o alto. Desistiu da carreira, fez plástica para mudar seu rosto, mudou seu sobrenome para ‘Súcefo’, e foi morar com sua família no interior (sua mãe e seus dois irmãos, Jamilo e Jáckerson).

Mas as coisas não foram nada fáceis para Julieto...

- O que houve, meu filho? – perguntou-lhe sua mãe (que também teve que mudar de sobrenome) – Ando achando você meio abatido.

- Eu não sei, mamãe! – disse Julieto. – Já faz 2 anos que deixei essa carreira de artista, mas parece que as coisas comuns continuam não acontecendo comigo! É como se o mundo não me aceitasse na vida real!

- Do que você está falando?

- De várias coisas! Por exemplo, esse carteiro! Toda vez que ele nos entrega a correspondência, fica encenando algum tipo de ópera! Agora mesmo ele interpretou metade do “Barbeiro de Sevilha” e demorou quase uma hora só pra me entregar a conta de luz!

- Mas ele gosta de óperas!

- Sim, mas ele não é um tenor! É um carteiro, pombas! E a nossa empregada? Ontem ela estava se dependurando no varal e fazendo acrobacias como uma louca! Que diabos é isso?

- Ela sempre sonhou em trabalhar no circo!

- Então que fosse procurar um, ué!? Será que não pode simplesmente lavar a roupa?

- Oras, você está exagerando...

- Ah, é? Vejamos mais alguns exemplos... tem aquele vendedor de vasilhas que diz que conversa com os animais, tem o meu avô que fica contando historinhas com crianças ao redor dele, tem o açougueiro que conversa como se estivéssemos sempre dentro de um filme de terror, aquela sua manicure que vive sempre maquiada exageradamente e conversa mais do que a própria boca, aquele mendigo que se veste de gladiador... fora os meus irmãos! Jamilo diz que está construindo um foguete e Jáckerson está querendo passar pra vida real todos os ditos populares brasileiros! Outro dia jogou vários bois na água!

- Hehehe... Escute, meu filho... não tem nada de anormal nisso! É a vida real! O que acontece é que você estava acostumado com o vídeo. E o vídeo imita a vida real. E a vida real imita o vídeo. – dito isso, sua mãe lhe piscou um olho.

- Ah, não, mãe!! Até a senhora!! Por favor, converse comigo normalmente!!!

- Mas eu estou falando o mais normal possível! – e lhe deu um sorriso maternal belíssimo.

- Pare com isso, mãe!!

- Isso o quê?

- Ah, pro inferno!

Julieto Súcefo resolveu sair para dar uma volta. Achou que andar pela rua lhe faria bem.

Mas estava enganado...

Sentou-se no banco de uma pracinha para ler um jornal, mas várias pessoas estranhas sentaram-se ao seu lado, sempre contando uma piada diferente.

Foi até um bar para tomar uma cerveja, mas um cara grandalhão com uma namorada bonita puxou briga com ele, alegando que Julieto a estava paquerando.

Foi até o supermercado, mas vários bandidos entraram lá dentro dando tiros pra cima, até que um policial durão entrou lá e acabou com todos eles, sozinho.

Passou por uma rua e viu um pai abraçado com seus dois filhos. Um deles, muito feliz, disse:

- O senhor é o melhor pai do mundo!

Então, Julieto apelou:

- AAAAH NÃO!! JÁ CHEGA!!! CHEEEEEGA!!! ME DEIXEM EM PAZ!!! – e saiu correndo.

Julieto Súcefo pegou um ônibus e resolveu ir para uma cidade do interior.

Quem está realmente prestando atenção nessa história, deve ter pensado: “Mas ele já não estava em uma cidade do interior?”. Pois é, então Julieto resolveu ir para o INTERIOR do interior. A nata das cidades pequenas, pois só lá encontraria a pessoa mais normal do mundo...

- Papai!!!

- Julieto, meu filho! Há quanto tempo!!

Fora uma bela noite. Há muitos anos Julieto não encontrava seu pai, que era a pessoa mais simples e comum do mundo. “Como não pensei nisso antes?”, pensou.

- Meu filho, meu filho... – disse seu pai, com simplicidade no olhar. – Por que, afinal de contas, resolveu me procurar justo hoje?

- Ah, papai! Deixa isso pra lá! Digamos que já não agüentava mais de tanta saudade do senhor!

- Hum... entendo. Sabe, eu...

- O quê? Que olhar é esse???

- Eu preciso fazer uma revel...

- Não, não!! Nada de revelações!! Nada disso! Fica quietinho!!

- Mas preciso lhe contar...

- Não vai contar nada!!! Fica na sua!!!

- É que na verdade...

- Papai, por favor!!!

- Eu não sou seu pai!!

- CALA SUA BOOOOOCA!!!!

Em breve, mais aventuras de... JULIETO, O EX-ATOR!!!!

SOMENTE AQUI, NA TV C?RO!!!

- TV C?RO?? Ah não!!! Eu não estou na TV!!!!

ESTÁ SIM!!!

- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOO!!!!!