Dayka Niki não havia chegado à condição de mestra por mero acaso. Sempre procurada por muitos, estava sempre tranqüila e oferecia palavras agradáveis, como era de sua natureza. Como a maioria das pessoas quer resultados imediatos, então era difícil alguém ficar satisfeito. E muitos que ficavam satisfeitos, jamais retornavam para lhe agradecer.
No entanto, naquele dia, alguém retornou. Mas não era alguém satisfeito, e muito menos para fazer qualquer tipo de agradecimento...
- EU VOU MATAR VOCÊ, DAYKA!!! – gritou Matso Hatso, e a atacou com a espada.
Vários golpes foram desferidos contra a mestra, mas nenhum deles a atingiu. Dayka Niki era infinitas vezes mais veloz do que o guerreiro.
- Vejo que já tem sua lágrima de fúria, guerreiro. Creio que agora só resta uma. – disse tranquilamente, enquanto continuava se desviando.
- É, eu consegui sua maldita!!! – gritou Matso furioso, enquanto tentava acertá-la de qualquer jeito. – Você conseguiu! Você me deixou muito, muito zangado!!!!
- Eu? Mas não saí daqui o tempo todo. – havia um sarcasmo amável no tom de sua voz.
- Vai ver é por isso, sua desgraçada! Ao invés de me ajudar, você veio com essa história de 3 lágrimas! Pro inferno com isso tudo!! Por sua culpa, passei os piores dias de minha vida! Caminhei dias, passei fome, frio, enfrentei vários inimigos, quase morri... além de ver um grande amigo ficar louco(*) e uma filha morrer na minha frente!!! Você queria fúria??? Pois eu trouxe em grande quantidade!! Tome mais um pouco!!!!
Matso Hatso derramava várias lágrimas de fúria por todo o local. Há tempos não se via tantas, ainda mais derramadas pelo guerreiro. Quem visse tal cena, pensaria que estavam acumuladas por todos esses meses, e agora estavam sendo despejadas como água de cachoeira.
- Tem certeza de que não viu nenhum mérito em sua jornada, guerreiro?
- Depois de tantas desgraças, meu maior mérito seria se estivesse morto!! – então, Matso Hatso tentou desferir-lhe mais um golpe em vão, e se ajoelhou no chão, tamanho era seu cansaço.
Dayka se aproximou dele, colocando a mão por sobre seu ombro. Sabia que o perigo havia passado.
- Matso Hatso – disse, com voz serena – quando as pessoas vão aprender que é preciso cair para aprender a levantar? Quando vão aprender que não há nenhum mérito na vitória facilitada, ou até mesmo na morte, como você diz? Você sabe a resposta?
- Eu... eu...
- Sim, você sabe. Sabe, mas não quer aceitar. Não deseja ver que sua viagem só lhe deixou mais forte do que quando saiu daqui? Não deseja aceitar que aprendeu uma importante lição quando visitou seu pai na gruta, vendo que uma pessoa não pode fugir das cobranças do destino? Não deseja crer que sua visita à casa de Tasyro lhe mostrou que de nada adianta ter tudo fácil na vida, que o sofrimento muitas vezes fortalece? Não deseja aprender que a união faz a força, mas tudo tem seu preço, quando se deparou com a itinerante Cidade de Rabakás (**)? E, por fim, não deseja reconhecer que a morte de sua querida filha, Samyra Hatso, era inevitável e que, mesmo depois de suas maldades, sua finada filha Kyra Hatso lhe mostrou que sempre há esperança, mesmo para as pessoas que se julgam ruins? Me diga, guerreiro, não há realmente nenhum mérito em tudo o que viu ou sentiu? Você é realmente a mesma pessoa que me solicitou ajuda, meses atrás?
Matso Hatso ficou em profundo silêncio. Dayka continuou:
- Tantas perguntas lhe faço, não é mesmo? E nem precisa responder, pois você já sabe a resposta de todas elas. É difícil para muitos homens reconhecer que se aprendeu uma lição, ainda mais quando da mais dura forma possível. Você sabe, realmente, que se eu tivesse lhe dado um caminho fácil para as coisas, falharia ao tentar recuperar seu vilarejo. Sim, você sempre soube disso. Só deixou a fúria tomar conta de você, porque julgou que seria o caminho mais fácil. Mas está tudo bem agora. Quero que descanse. Descanse o quanto quiser, e depois volte e recupere seu lugar de direito no vilarejo.
- Mas... ainda não tenho a lágrima de felicidade...
- Claro que não. Sua jornada ainda não terminou.
- E você, sendo essa pessoa tão boa que é, vai permitir que eu volte e execute uma vingança?
- Eu não permito nada. Você é quem decide sua vida. E torno a repetir: sua jornada ainda está longe de terminar...
Então, Matso Hatso deitou-se no colo de Dayka e chorou. Chorou como jamais havia chorado em toda a sua vida. Lágrimas de tristeza, de raiva... e ele se sentiu um pouco mais aliviado.
“Estou voltando pra casa, Makyro Kamro. Me aguarde!”, ele pensou, e adormeceu.
(*) Na verdade, o guerreiro Damyel Kaimen não ficou louco. Essa é uma longa história que um dia será contada.
(**) Essa história também será contada.
5 comentários:
ótimo como todos os outros textos da série.
Matso Hatso ainda dá livro, hein!
Pois é, concordo com o Sr Pipi. Isso dá um livro bem dos bão!
Ciro! O coringa da escrita!!!
Concordo com os meninos! ÓTimo como todos da série!
Vou ter que reler osa anteriores para entender melhor algumas partes, mesmo assim, 80% está tranquilo!
Grande abraço!
Secô a fonte desse blog mesmo, hã?
Ciroooooooooo!!!
Que bom que postou mais Matso Hatso!!! Adooooooooooro essa saga!!! Pra mim, é sua obra-prima!!!
De fato, a gente só fica forte quando enfrenta grandes desafios... E só aprende grandes lições quando sofre... Fazer o quê, né?! É isso que dá graça à nossa vida...
Bjuuuuuu!!!
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