quinta-feira, 4 de março de 2010

HISTÓRIAS DO CORAÇÃO apresenta: "Organismo contra a Gripe Ursina"

Dentro de Ciro M. Costa

Olá amigos e amigas. Estão todos saudáveis? Todo mundo cuidando direitinho do seu organismo? Então está ótimo. Pra quem não me conhece, eu sou Hért, o Coração. Isso mesmo! Sou um coração que narra histórias. Gosto do meu nome, faz parecer que é “Heart” (“Coração” em inglês), mas não é. Acho isso chique.
Bem, hoje vou contar uma daquelas histórias que aconteceu no organismo do meu dono, Jaquelino, há muitos anos atrás, antes de vir parar nesse vidro...
Era sempre a mesma coisa: toda vez que uma doença nova chegava no organismo, vinha a tal da chantagem. Qualquer vírus ou bacteriazinha metida a besta gostava de chegar exigindo coisas, caso contrário ela atacaria todo mundo. O Sistema Imunológico, como sempre, alegava:
- É a primeira vez que esse pessoal entra aqui, ainda não sabemos como combatê-lo.
Como eram preguiçosos! Tinham poder de fogo de sobra pra acabar com qualquer corpo estranho lá dentro, mas não faziam questão nenhuma de trabalhar.
- Se ao menos fossem como nós, podiam admitir que estão é se mijando de medo! Hahahahaha!!! – diziam os Rins, sempre com suas gozações.
Sabem que sinto falta daqueles Rins? Às vezes fico imaginando se não sobreviveram, ou se foram doados pra outra pessoa. Que dupla de farreadores, viu? Nem o pessoal do Sistema Reprodutor (que eram um bando de gozadores) fazia tantas chacotas assim!
Mas voltando à história, com aquele vírus, a coisa foi diferente. Com outros havia sido fácil de resolver, pois, se o Sistema Imunológico não trabalhava, tínhamos pelo menos a ajuda das Vacinas. Mas contra esse, não havia Vacina alguma. Segundo algumas veias me contaram, ele entrou por elas sem que elas percebessem, e quando viram, ele já havia mexido no aquecedor do organismo. Nosso dono teve febre altíssima naquela tarde. Pensamos que fosse mais algum vírus de uma gripe qualquer, mas logo ele se alojou em um local do Cérebro e começou a mandar informações pra todo mundo:
- Tragam-me alguns glóbulos vermelhos, ou vou matar todos vocês!
Ficamos bastante assustados com aquilo, principalmente eu! Estávamos sim acostumados com ameaças de corpos estranhos, mas... “matar”? Não era qualquer vírus que usava esse vocabulário feio.
Em pouco tempo, fizemos uma reunião e uma Hemácea que havia levado oxigênio para o Cérebro nos trouxe a seguinte informação:
- Trata-se de um vírus chamado Urso1. É uma variação do vírus da gripe, mas que se desenvolveu no organismo dos ursos da Flórida. Agora, metade dos humanos do planeta está sofrendo com ele. E devo lhes dizer, ele é letal!
- O que é ‘letal’? – perguntou o Pênis, burro como sempre.
- “Letal” quer dizer mortal!!
Neste momento, todos nós arrepiamos. Não gostávamos quando alguém falava de ‘morte’. Sabem, a gente gostava de viver ali dentro. Embora a gente tivesse que engolir tudo o que viesse do “Mundo do Lado de Fora’, não gostávamos de ouvir falar de lá. Gostávamos de ficar no nosso mundinho, e era isso.
Era tudo muito assustador, mas ao mesmo tempo não queríamos entregar nenhum glóbulo vermelho. Éramos muito unidos no Organismo (apesar das brigas com o Cérebro e com o Estômago quando bebida alcoólica entrava lá) e não queríamos que nenhum de nossos amigos morresse para um vírus qualquer.
- Pinta um glóbulo branco de vermelho e manda no lugar!!! Hahahahha!! – disse o Rim Direito.
Com tanta tensão, ninguém conseguiu rir da ‘piadinha. Um dos Músculos chegou a comentar que os Rins andavam falando mais merda do que o próprio Intestino. Mas isso não vem ao caso.
As coisas se complicavam a cada dia. O Estômago já não estava aceitando qualquer coisa e muitos órgãos reclamavam da troca constante de temperatura. Muitas Mucosas Nasais foram expulsas naquela época. O Intestino também não conseguia moldar mais nada, e só liberava material extremamente mole.
E os dias foram se passando e nada do Urso1 ter o que queria. Uma equipe do Cérebro tentou enrolar o vírus por um tempo, mas ele não era bobo. Em pouco tempo, estávamos passando por uma Febre terrível novamente, e Jaquelino (nosso dono) foi parar direto na cama. O vírus ainda ameaçou:
- Chega de brincadeiras! Ou me mandam um glóbulo vermelho em meia hora, ou Jaquelino sofrerá terríveis conseqüências!!!
Céus, e agora?? Naquele momento, cheguei a bater um pouco mais rápido do que de costume. Veias e Artérias pediram para que me acalmasse, mas como??
- Não se preocupe, Coração! Parece que o Sistema Reprodutor e o Sistema Imunológico tiveram um plano. – disse a Artéria Poplítea.
Fiquei um pouco intrigado do Sistema Imunológico estar finalmente tomando uma providência. Porém, assim que soube do tal plano, não tive nenhuma surpresa. A idéia era a seguinte: como o tal vírus Urso1 não sabia como era realmente um glóbulo vermelho, eles pintariam um espermatozóide dessa cor e mandariam até lá. Tínhamos milhões de espermatozóides no Organismo, cada um com uma vocação: médico, dentista, advogado, professor, contador, cabeleireiro, químico, vendedor do Wall Mart... somente tínhamos que recrutar um com vocação para soldado.
Por isso o plano não me espantou vindo do Sistema Imunológico: não queriam arriscar um de seus soldados, então arriscariam a vida de um espermatozóide (já que havia tantos). Não demorou até que o Esperma selecionasse o seu melhor e enviasse para ser colorido de vermelho no Sangue.
- Não vá entrar em lugar errado e engravidar o Cérebro, hein? Hahahahaha!!! – disse o Rim Esquerdo.
Depois de muitas recomendações, lá se foi o Espermatozóide Soldado para a ‘batalha’. Esperávamos que Urso1 fosse enganado e derrotado, mas também sabíamos que não seria fácil. E não me perguntam como um mero espermatozóide pode matar um vírus, porque disso não entendo. A Artéria Braquial havia me dito que o Sistema Imunológico ensinara várias técnicas de batalha para ele em poucos minutos. Do jeito que o Sistema Imunológico era medroso, não duvido que também tenham lhe ensinado várias técnicas de fuga.
Aqueles foram minutos de muita tensão. Não sabíamos o que estava acontecendo lá em cima, e por isso estávamos bastante ansiosos. “Será que ele conseguiu? Será que o tal vírus foi enganado?” perguntavam os nervos de minuto em minuto. Mas quem não estaria preocupado? Até o Intestino que era metido a valentão já estava querendo fazer merda de novo.
- Preeeendam esse cara!! Hahahahahhaha!!! – disseram os Rins, que não pareciam muito preocupados com a situação.
De repente, uma hemácea apareceu gritando:
- Vencemos!!! Urso1 foi derrotado! O Espermatozóide venceu!!!! Estamos salvos, galera!!!
Foi uma festa. O Organismo voltou à sua temperatura normal e todos estavam tranqüilos novamente. Depois de alguns minutos o corpo de Urso1 foi trazido para baixo.
- Que bicho feio! – disse uma artéria.
Logo o Intestino deu um jeito de jogar o tal vírus para fora, e o Sistema Imunológico prometeu que aquilo nunca mais aconteceria (a mesma promessa que faziam toda vez que entrava uma Gripe).
Os Ouvidos nos contaram depois que uma amostra do sangue de Jaquelino foi retirada pelos seres humanos para estudos, e desenvolvimento de uma nova cura. Infelizmente, nunca conseguiram nenhuma. Afinal, aquela era uma idéia absurda: mandar um espermatozóide no Cérebro enfrentar um vírus mortal!? Só nós mesmo!
E vocês me perguntam: como ele conseguiu isso?? Nunca soubemos. Uns diziam que o Espermatozóide entrou no vírus e cresceu até implodi-lo. Outros, que ele ofereceu um pouco de esperma para Urso1, alegando ser mel. Urso1 teria morrido então de indigestão.
Acho que é difícil saber. O que sei, é que o Espermatozóide nunca mais foi visto. Por algum motivo, ele resolveu se esconder em algum lugar do Cérebro e lá ficou até o fim de seus dias. Estranhamente, depois disso, Jaquelino começou a ter maior interesse por girinos e estudou mais Biologia do que de costume.
É isso aí, amiguinhos. Eu sou Hért, o Coração. Lembrem-se: cuidem bem de seu organismo. Um dia vocês poderão precisar dele.

4 comentários:

Giovanni disse...

Ciro, que belo texto este sobre o organismo! Por vários momentos imaginei a bagunça que deve ser dentro de mim mesmo kkk.
Obrigado pelo comentário sobre o meu texto Amizade. Você leu O que o mar traz à praia?

Ciro disse...

Valeu, Giovanni! Ainda não li nem o seu texto nem o da Cissa, mas não demora muito eu dou uma olhada. Falta tempo, heheheh!!!

Sessyllya ayllysseS disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bruno Carvalho disse...

Ahahahahahaahhah! Esse é o Ciro de sempre! Mostra com uma naturalidade fora do cumum: todos os órgãos se comunicando, um vírus que não existe, uma situação completamente louca, e ainda, piadas originais e insanas!

Dá dó do Mundo por ainda não conhecê-lo!

Grande Abraço!



Parabéns!